Categoria
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Systematic review
Revista»Cochrane Database of Systematic Reviews
Year
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2015
INTRODUÇÃO: A dismenorreia é um problema ginecológico comum e consiste de cólicas menstruais dolorosas. Quando não existem anormalidades associadas, esse quadro clínico recebe o nome de dismenorreia primária. Sabe-se que mulheres com dismenorreia têm altos níveis de prostaglandinas, que são os hormônios que causam as cólicas. Os anti-inflamatórios não hormonais (AINHs) são drogas que atuam bloqueando a produção das prostaglandina. Os AINHs inibem a ação da ciclo-oxigenase (COX), uma enzima responsável pela formação de prostaglandinas. A enzima COX existe em duas formas, a COX-1 e a COX-2. Os AINHs tradicionais são considerados “não seletivos” porque inibem tanto a enzima COX-1 quanto a COX-2. Os AINHs mais seletivos, que têm como alvo unicamente as enzimas COX-2 (inibidores específicos da COX-2), foram lançados em 1999 com o objetivo de reduzir os efeitos colaterais normalmente relatados ao uso de AINHs, como problemas gastrointestinais, dores de cabeça e sonolência.
OBJETIVOS: Avaliar a efetividade e segurança dos AINHs no tratamento da dismenorreia primária.
MÉTODOS DE BUSCA: Pesquisamos as seguintes bases de dados em janeiro de 2015: Cochrane Menstrual Disorders and Subfertility Group Specialised Register, Cochrane Central Register of Controlled Trials (CENTRAL, edição novembro 2014), MEDLINE, EMBASE and Web of Science. Pesquisamos também as plataformas de registros de ensaios clínicos (ClinicalTrials.gov e ICTRP). Checamos os resumos dos maiores congressos científicos e as listas de referências dos artigos relevantes.
CRITÉRIO DE SELEÇÃO: Incluímos todos os ensaios clínicos randomizados controlados (ECR) que compararam os anti-inflamatórios não hormonais (AINHs) com placebo, outros AINHs ou paracetamol, quando utilizados no tratamento da dismenorreia primária.
COLETA DOS DADOS E ANÁLISES: Dois revisores independentemente selecionaram os estudos, avaliaram seus riscos de viés e extraíram os dados, calculando o odds ratio (OR) para desfechos dicotômicos e a diferença média para os desfechos contínuos, com o intervalo de confiança de 95% (95% CI). Utilizamos o método de variância inversa para combinar os dados. Avaliamos a qualidade geral das evidências utilizando o método GRADE.
PRINCIPAIS RESULTADOS: Incluímos 80 ensaios clínicos randomizados controlados (com 5.820 mulheres). Ao todo, comparamos 20 tipos diferentes de AINHs (sendo 18 não seletivos e 2 inibidores específicos do COX-2) com placebo, paracetamol ou entre eles. AINHs versus placebo Entre as mulheres com dismenorreia primária, os AINHs eram mais eficazes no alívio da dor do que o placebo (OR 4,37, 95% CI 3,76 a 5,09; 35 estudos, I2 = 53%, evidência de baixa qualidade). Isso sugere que 18% das mulheres que tomaram placebo tiveram alívio moderado ou excelente da dor, enquanto 45 a 53% das mulheres que tomaram AINHs alcançaram esse mesmo desfecho.No entanto, as mulheres que tomaram AINHs tiveram mais efeitos adversos (efeitos adversos em geral: OR 1,29, 95% CI 1,11 a 1,51, 25 estudos, I² = 0%, evidência de baixa qualidade; efeitos adversos gastrointestinais: OR 1,58, 95% CI 1,12 a 2,23, 14 estudos, I² = 30%; efeitos adversos neurológicos: OR 2,74, 95% CI 1,66 a 4,53, sete estudos, I² = 0%, evidência de baixa qualidade). As evidências sugerem que 11 a 14% das mulheres que tomaram AINHs terão efeitos adversos, enquanto 10 % das mulheres que tomarem placebo terão esse desfecho. AINHs comparados com outros AINHs Quando os AINHs foram comparados entre si, não foi encontrada evidência da superioridade de algum AINH específico para alívio da dor ou segurança. No entanto, a evidência disponível tinha pouco poder de detectar alguma diferença, pois a maioria das comparações individuais foi baseada em um número muito pequeno de estudos com poucos participantes. AINHs não seletivos comparados com inibidores específicos da COX-2 Apenas dois dos estudos incluídos utilizaram inibidores específicos da COX-2 (etoricoxibe e o celecoxibe). Não houve evidência de que os inibidores específicos da COX-2 eram mais eficazes ou mais bem tolerados do que os AINHs tradicionais; no entanto, os dados eram bastantes limitados. AINHs comparados com paracetamol Os AINHs parecem ser mais efetivos do que o paracetamol para o alívio da dor (OR 1,89, 95% CI 1,05 a 3,43, três ECRs, I2 = 0%, evidência de baixa qualidade). Não foi encontrada diferença em relação aos efeitos adversos, porém os dados eram bastante limitados.A maioria (59%) dos estudos era patrocinado pela indústria e 31% deles não citavam a fonte de financiamento.
CONCLUSÃO DOS AUTORES: Os AINHs parecem ser muito eficazes para o tratamento da dismenorreia, porém as mulheres devem estar cientes de que existe um risco substancial de efeitos adversos. Não há evidência suficiente para apontar qual é o AINH (se houver) mais seguro e mais eficaz para o tratamento da dismenorreia. Classificamos a qualidade das evidências como baixa para a maioria das comparações, principalmente devido ao fato de os estudos descreverem a metodologia de forma incompleta.
NOTAS DE TRADUÇÃO: Tradução do Centro Cochrane do Brasil (Fernando Takashi Kojima Marques)
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Epistemonikos ID: 9f884b2fe017b7de62841ae2783e816d9a31144a
First added on: Dec 12, 2015